Se o Estado líquido for história

O líquido que fluí e impera na atmosfera da história
É um enorme rio violento e amargo
Derrama o seu caldo em todos os espaços
Destrói o que está organizado
Apaga os escritos mais anarquizados
Extingui o oposto, irregular e o avesso a sua correnteza

O líquido fluí por todos os buracos que falam
E transborda pelas porosidades que se calam
Penetra nas fissuras
Modela as estatuas solidificadas
Desfigura os mais friáveis

Um fogo que se ergue é apagado
Ventos violentos não alteram a direção
O fluxo é único, avassalante
Não sobram ilhas, nem margens
Fica tudo bem lavado
Atmosfera histórica limpa

Há um horizonte muito claro na metamorfose do tempo

O que resta é contaminar esta água que almeja a limpeza
No movimento do avassalador
Deve conter pedras capazes de mudar o seu curso
As margens que o controlam
E os seres vivos que o contaminam de idéias

Conforme a história, o líquido tem um temor
O vácuo, o vazio...
Se isto ocorre é em virtude de um volume sólido
Impermeável, duro e sem fissuras
O líquido o contornará
Mas se este crescer terá todos os espaços
De forma que o rio perde o curso
Submerge no nada
E o sólido encrava na história
Como martelos que quebram ampulhetas e espalham a areia no tempo

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