O poeta que havia em mim
foi exterminado
por falta de vozes
por falta de abraços
morreu de frio
o coração gelado suicidou-se
Vem e me dê a mão
Tudo faz parte de um sonho
que já não sonhamos mais
Há resquícios de um ser
que nasce
por causa do sol
por causa da poesia
nasce afônico
e as palavras escorrem
como mel da minha boca
Joga o cobertor
Acende a lareira
que a vida está descendo um ladeira só
Poetas morrem a todo instante
bêbedos
pelo sabor da bebida errada
pelo estupor da palavreação
morre só
e um epitáfio se escreve
sobre o chão que engole a alma
Rasga a cortina
e deixa o sol entrar
Existe tanta coisa para consertar
A música que ora componho
não pode ser cantada
por vozes insipientes
por cordas desarraigadas
melodia nova
de um mundo que nasce
nos olhos de poeta que morre