Expedições Internas II – Cursando os Rumos

Era ansiedade.
Adiantamos-nos pelo menos em uma hora se comparado a primeira.
Motores pujantes, humanos insomaniacos, madrugada com céu nublado, assim seguimos para atravessar o grande Madeira rumo ao nosso destino. Antes de cruzar o rio, a água atravessou nosso caminho, chuva. Parecia rápida, decidimos seguir em frente. Chuva e escuridão, a dicotomia perfeita, era um The Somberlain com horizonte azul e acima o negro abismal com anseio devorador.

Seguindo na linha acinzentada com um céu de ressaca cultuando a água, cochilos a 100 km/h. Uma manhã sem movimento, gaviões estacionados em nossas direções, nós invadindo a direção dos gaviões.

Impressionante o quão velho é esse trajeto e tão despovoado o é. Tudo muito plano. A floresta parece planejada, uma economia “des” Rondônias. Tão baixa quanto o meu sentimento regional por essas delimitações que é o Estado, até para atravessá-lo, eu o descrevo. Realmente, essas florestas foram plantadas! Mas exterminaram, expulsaram e/ou desalojaram seus plantadores. . .

Paradas na margem da linha, café da manhã, o tradicional leite e seguimos. Respirando. A parada mais demorada antes da chegada trouxe reflexões e risos. Fumamos palheiros. Eu vi um necrófago morto na beira da estrada, negro como todos os necrófagos. 4 horas de viagem e chegamos ao nosso destino, tranqüilos, insones e a procura de alguma coisa, até aí não tinha nada decidido.

E começamos a andar na pequena cidade, era constante ver a mesma pessoa em menos de uma hora. Tomamos café e fizemos o reconhecimento histórico: Feira tradicional; Comércios; Cemitério pequeno, mas peculiar, com algumas estatuas e pichações curiosas; Igrejas, prédios de arquitetura da primeira metade do século XX, parede anarquizada, Ribeirinhos e poucas mulheres! Andamos bastante. Éramos olhados. No almoço, comemos peixe, não tinha nada melhor do que isso! Tomamos uma cerveja. Tudo isso na margem esquerda do Madeira.

Estávamos bem, circulamos mais uma vez pela cidade para alguns ajustes nos motores e fomos descansar numa praça central, não tinha ninguém quando chegamos. E ficamos por ali algum tempo, quase sempre vigiados pela população que estranhava-nos.

Era um sono confundido com tédio, decidimos voltar no mesmo dia. Tarde de sol. Voltando, os motores iam ao máximo. É sempre assim. Vimos ótimos igarapés para um banho na tarde quente e esfriamos nossas mentes amazônidas.

Voltávamos pelo mesmo caminho, mas percebi que na ida não observamos a importância de cada casebre que está naquela localidade sem qualquer instituição governamental, comércio e combustível. Penso no meu fútil tédio que cheguei a sentir, isso não é nada comparado ao que esses sertanejos, ribeirinhos, caboclos e nativos vivenciam, no meu maldito olhar ocidental!

Nossa ultima parada na estrada, foi para celebrar nossa viagem, bebemos a ultima ml do leite, fumamos e conversamos na beira da estrada. Entre risos e bagunças, legitimamos a vitória de mais um desafio “in-cotidiano”.