Verdade

Os faróis se apagam ao amanhecer
E nunca sei em qual ilha devo atracar

Pode ser que haja feras
Não sei diferenciar os iguais

Quando os ventos são bonança
Nem é necessário escolher
Mas se há tempestade
Inexiste tempo para julgamento
Invado qualquer um lugar
Desde que seja terra firme
Sem me importar se serei bem-vindo

Às vezes sou expulso
Outras sou convidado a ficar
Algumas negam minha presença
Antes mesmo de eu chegar

Mas o melhor é que
Serei sempre nauta

Jangada de pele e osso

Há faróis brilhantes de novo
Depois do ocaso eles revivem

É sempre assim
Sou cego com tanta luz

Vou para longe
E conheço outras ilhas

Quando uma delas me apraz
De repente o mar a engole

Novamente sou jangada.

Êxtase

No fim da noite as coisas mudam

Quando só os sonhos perambulam
É que vivem os poetas
Permeando a alegria

Transmutando entre mundos
Em locomotivas que nunca voltam

(...)

Sob o estupor da lua matutina
Nascem poetas destinados ao delírio

O sol garboroso da Amazônia
Vem pomposo sobre as palhas do babaçu

E eu sou poeta da mata
Extasiado
Doido
Com o canto do uirapuru...