Marta Valeria

Puta que pariu
Ela não pára de falar
A hora não passa
E eu conjugo o verbo TÉDIO
O sol não se pôs
Mas o ocaso já passou
O relógio parou
E ate o tempo sumiu (?)...
As vozes estridentes
Penetram meu labirinto
E ficam por lá tinindo
Sem saber qual a saída
Minha cabeça dói
E a voz não cala nunca...
Devaneios, fugas e confusões
Por entre buracos negros
Todos fogem, todos fogem
Não fica ninguém
E todos estão aqui
Presentemente ausente
Sem corpo, voz ou alma
O sol não brilha aqui dentro
E as nuvens
Pintadas com caneta azul
Estão se dissipasando
Aquém vêm e vão, letras
Acolá vão e voltam palavras
Não importa
O que paira no meio
Porque todos estão mortos...
Mas eu, cuja alma se reflete
As forças todas do universo
Em cuja reflexão emotiva e sacudida
Minuto a minuto, emoção a emoção,
Coisas antagônicas e absurdas se sucedem
Eu o foco inútil de todas as realidades,
Eu o fantasma nascido de todas as sensações.
Eu o abstrato, eu o projetado no écran,
Eu a mulher legitima e triste do conjunto
Eu sofro ser eu através disto tudo como ter sede sem ser de água.
Eu não mereço essa tormenta maldita
Mãe dos meus desejos quero ir contigo
Para o reino obscuro onde Marduk dormiu
Eu tentei ser um credor frio, humano
Agora vem a Jerusalém descortinada
Não em Babilônia, mas em holocausto
Que nosso Hamurabi não julgaria
Deusa suprema dos meus sonhos
Eu venero teu nome contra a fúria
Dos ventos na linguagem dos mortos
Eu já vivi este mundo bastante
Para saber que almas são escravas do poder
Tu es cicuta no vinho da santa ceia
Conceda-me o teu obscuro prazer
E deixe queimar uma pirafuneraria
Esse aroma escurecido que me faz sentir
Febril cada vez mais perto de ti.

Sou Deus

Eu esfrego os olhos
Sei que o espelho não mente
Que idade será que tenho?
Eu contava 19 anos
Mas parece que faz muito tempo
Meus olhos caídos e perdidos
O que houve com meus lábios?
Estão murchos...
Quantos anos tinha Jesus?
Quando decidiu que era Jesus?
Com que idade será
Que Dalai Lama vai morrer?
Lavo o rosto
A água enferrujada
Da Amazônia industrializada
Limpa meu rosto verossímil
Estou mais velho
A aparência jovem
Esconde o homem – das - cavernas
Sou sem rosto para se ver
A parte mais pura
De um silencio com palavras
Descobri uma parte sã
Nos 10 milhões de anos
Que viverei em breve
Quanto tempo será que tenho
Até torna um mortal?
Olhando os fundos. Abandonando o tempo em um presente que se perde o passado. Vivendo entre sombras. Porque nem tudo que reluz no momento é ouro no futuro. E sem aquilo que sempre desejamos é só agonia. O desejo é profundo, como uma mitologia caída, escavada em um silencio tedioso, inanimado. O asco é transformado em tranqüilidade, uma imagem em imaginação, o interior da alma em pecado carnal e um romântico em canibal. Um mergulho no crepúsculo e acima as estrelas em constante profanação, retarda o destino enquanto no alto da atmosfera um anjo sopra forte para afastar o brilho e sustentar o escuro e o sossego no fundo de um caos ignorado, agora preenchido.