ACADEMIA DE HISTÓRIA E FRONTEIRA INTELECTUAL

Todos chegam entusiasmados e adiantados. Exceto alguns, aqueles pobres em entusiasmo.
O professor erudito adentra no bando para aniquilar, todos o aguardam sentados e ele sabe disso... Espera anualmente para encher a boca com palavras irônicas aprendidas na sua província. Usa Bloch, Marx... Mas em seus gestos e desprezo pela teoria histórica reina muito mais Seignobos e Comte. Graceja com ironia e se arrisca a querer falar de filosofia. Um agrupamento de peixinhos vão de encontro, pois querem se auto-noticiar e sair nas bordas da imagem do doutor letrado que é quase um coronel em sua província.

O professor erudito teme Dosse, Burke, Nora, Chartier e toda essa ‘playboyzada’ que renovaram a história. Os “alguns, pobres em entusiasmo” começam a questionar aquele catecismo de índio sem etnia. (Des)organizam a academia, em fins de aula ingerem álcool e fumam seus cigarros baratos em conversas que não custam nada e que não se publica em revistas e periódicos. Não se publica, mas enfrenta-se. Há aqueles que falam do homem nos primórdios, se viviam sem ou com o Estado/governabilidade, evocando da arqueologia à filosofia de Rousseau. Aqueles mais revolucionários perguntam-se sobre os processos de (in)dependência da América Latina, do Maio de 68 à Foucault. Dentro desse contexto, discutem-se a ‘tirania’ de professores e o fascismo dos alunos. Há também indagações sobre a religião, das ‘mazelas’ cristãs... A história se faz com combates.

O cardume de peixinhos adentra no aquário do professor, nesta água, só eles podem nadar. Produzem artigos sobre: sincretismo, a origem das coisas, dos nomes e dos números. Escrevem num positivismo-regional com apelo a história oral sem tamanho. Ajoelham-se para seus mestres, os eruditos da história local. Outros historiadores e antropólogos tem combatido este agrupamento, tanto dos professores-pescadores como dos peixinhos que nadam no aquário da universidade.

A antropologia argumenta que historiadores deveriam ser coibidos de estudar a cultura. É uma clara tentativa de defender seu campo e não corrompê-lo na etnografia de historiadores (leia-se descrição de ‘populações tradicionais’ associada ao etnocentrismo) de meia-boca. O problema é que alguns peixes (estes não nadam em cardume) generalizaram argumentando que todos da História eram deste mesmo aquário. Tal argumento provém principalmente de um cientista socialzinho que lambeu no Priapo da História e só largou o membro quando o Priapo marxista-hermeneuta-uspiano deixou a universidade. O cientista... direi cronista da sociologia, pois tem se envolvido na literatura local, escrita pelo seu Priapo, com abordagem sociológica (segundo ele). É necessário salientar que este intelectual das letras, que jura escrever como Deleuze, escreve errado, não no sentido Saramago, mas por não conjugar um verbo corretamente. Isso é contraditório, pois ele vive a dizer que historiadores não sabem escrever.

Vive a dizer que somente eles (cientistas sociais), podem ler Weber, Marx, Foucault, entre outros. Só eles podem ‘criar’ e escrever. É o ‘intelectocentrismo’ que tem sede de se rebelar. É o diagnóstico de um cronista seriamente ameaçado, temendo que os alunos da história (exceto os peixinhos) combatam os parasitas da universidade sem ter que institucionalizar o movimento com nomenclatura mao-marxista. É necessário reconhecer que há serias divergências em qualquer movimento que se organize na história, desde alunos que boicotam não participando, até os (peixinhos) que fazem a política do contra. Portanto, não existe uma unidade da história, mas um fragmento que é combatente.

No momento, os peixinhos estão tentando tornar-se peixões como o professor erudito. O cientista socialzinho está tentando uma vaga de literato local, contraditoriamente a linha de história e ficção, para garantir que sua literatura seja vendida na província dos peixinhos, aliás, este aguerrido cronista não sai de sua província. O professor erudito continua adestrando novos peixinhos para o aquário. E os “alguns, pobres em entusiasmo” tem se engajado na docência e na pesquisa da história e filosofia como o eram em suas discussões, mas se reunindo em conversas regada a drogas, bebidas e história.